21 set

Fantasmas do Passado – Raquel Amorim

Jack sempre foi um menino sorridente e até mesmo bastante inteligente para as condições que a vida lhe impôs para sobreviver. Nunca é fácil estar feliz, pensar positivo, imaginar que pode car bem estando preso a uma cadeira de rodas, mais ainda, sem poder expor em palavras o que sente ou quer.

Suas mães ficaram radiantes com a sua chegada, mesmo depois que foi diagnosticado com paralisia cerebral severa. Seus ossos atrofiados e a incapacidade de fala não foram su cientes para elas desistiram da maternidade. Maísa, a gestante, se deliciava toda vez que sua esposa beijava  a barriga, prometia amar os dois para sempre; e ela vinha cumprindo isso com maior prazer.

Cuidar de Jack, ainda que cansativo às vezes, é satisfatório, pois toda vez que o menino sorri elas sentem que parte das suas missões em vida está sendo cumprida. Para Maísa e Clarisse é bem isso, elas vieram a esse mundo para dar amor e felicidade a aquela criança.

Quando Jack fez dez anos, mais especificamente cinco dias depois, o avô dele, pai de Clarisse, faleceu. Ela era lha única e por isso teve que ir até a pequena cidade onde o pai morava, ainda mais porque havia casas e terras para serem cuidadas.

Diante dessa nova realidade, as duas mulheres tomaram a decisão — iriam se mudar para o interior da Bahia, viver na pequena cidade de Andorinhas, localizada no Centro Norte do Estado. Um mês depois, os três saíram da grande São Paulo a caminho da cidade natal de Clarisse, onde a mulher de trinta e oito anos viveu sua infância e adolescência.

Ela conheceu Maísa na cidade grande, começaram a namorar, casaram e tiveram Jack. Maísa é mais velha, tem quarenta e um anos, sempre teve vontade de ser mãe, e agora tem planos de adotarem uma menina, o sonho de Clarisse, mesmo amando seu filho incondicionalmente. A mais nova é fisioterapeuta e a outra é fotógrafa, profissão que acabou deixando um pouco de lado para que pudesse se dedicar aos cuidados intensivos que o menino necessita.

A nova casa era grande, pelo menos para os padrões do interior. As terras eram maiores ainda, sabendo lidar com elas poderiam viver ali muito bem. Havia gado, não em grande quantidade, mas o suficiente para ter sustento, galinhas, porcos, cabras e grandes árvores com variadas frutas.

A vida dos três caminhava para uma felicidade extrema, tanta que quase não poderiam descrever; até o pedido de adoção seria feito na cidade. Tudo ia perfeitamente bem, pelo menos até dois dias atrás, quando coisas estranhas começaram a acontecer.

Continua em … Antologia Criaturas da noite

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: