16 mar

Ps: Mãe, última carta – Paula Curi

Mãe  demorei muito para lhe escrever, porque era e é muito difícil.

E ainda não consigo. Mas, agora dia 19 seria seu aniversário aqui na terra, e prefiro escrever no dia que você nasceu ao que partiu.

Nem sei direito o que lhe escrever, posso dizer o que aprendi com sua partida.

Aprendi que a vida é literalmente um sopro, que não existe nada pior do que saber que nunca mais vou ver alguém.

A gente se perde em tantas coisas pequenas, em palavras não ditas. 

Com sua partida vi que deveria sempre tentar e fazer tudo que meu coração sentia, mesmo que o resultado não fosse o que eu esperava, o famoso se arrepender de ter feito, como você mesmo dizia.

E fiz mãe, fiz e aprendi muitas coisas desde sua partida. Abri meu coração mesmo sabendo que poderia me machucar, gritei, perdi a calma ( coisa que você sempre reclamava, eu ser muito calma) , tomei vários banhos de chuva sempre lembrando de ti, chorei vendo filme, parei de fumar, voltei a fumar, descobri que sou romântica, fiz novas amizades,me apaixonei ( por essa nem você e eu esperava), vi parti pessoas que eu queria ter por perto, que nunca vou ter resposta para tudo, nem sempre vou ter quem eu quero por perto, que a saudade é um sentimento horrível e egoísta, que existe  dor de amor, que um abraço é um porto seguro, que tenho que ter fé sempre porque nunca te faltou fé.

Sempre lembro de suas frases :  O mesmo homem não atravessa o mesmo rio duas vezes. Nem sempre é importante o porque e sim o para que. O importante é sempre escolher o que te faz feliz. O que é de gosto arregala a vida. 

Meu maior medo era esquecer sua voz e imagem, descobri que nunca vou esquecer. 

Outro dia encontrei um bilhete que me escreveu dizendo que cada problema tem seu tempo, que não devo me preocupar com o futuro.

Ainda é bizarro saber que nunca mais vou te ver, deve ser por isso que ultimamente ando tentando ser mais sociável. Nunca sabemos o dia do amanhã.

Tem dias que me pego tão quieta que até me estranho, uma sensação de silêncio.

A única coisa que me conforta é que  a gente teve uma última conversa, e da nossa maneira nos despedimos.

No dia de sua partida tive pessoas incríveis ao meu lado, guardo todas elas no meu coração. E você iria adorar todas elas, teve uma amiga que errou o cemitério , me lembrou quando fizemos o mesmo, parece que foi em sua homenagem.

E teve uma pessoa muito especial que você iria adorar conhecer, ela mesmo longe me abraçou, a única que me dava broncas, me fazia muito bem. Eu sei que errei com ela, aquela minha mania de achar que tudo era um sinal, confundi o gostar dela com o meu gostar,por isso não nos falamos mais. Ela é tempestade de Iansã no meu mar de Iemanjã. Mas, aí entra uma frase sua : Quando é pra ser até as pedras se encontram.

E hoje estou aqui, sentada escrevendo pra ti provavelmente a última carta.

Sei que você está em um lugar muito melhor, e só quero que fique em paz. Não tem que se preocupar com a gente. Você cumpriu sua missão aqui , com muita fé e coragem. E agora merece descansar.

Mãe foi e é um privilégio ter te tido como minha mãe.

Feliz aniversário, que o céu te cubra de flores e perfume.

Bjs de sua filha que te ama 

Paula Curi

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