20 mar

Tempestade no meu mar -Paula Curi

Como filha de Iemanjá, minhas águas são calmas e  tranquilas.

Pelas minhas águas  conheci muita gente, sempre fui muito seletiva com quem devia permanecer no meu mar.

Mas, um dia sem que eu esperasse ela chegou como uma tempestade de Iansã.

No começo achei que era uma chuva passageira, mas , não sei se intencionalmente ou porque é da sua natureza, ela aumentou a intensidade dos seus raios e chuva, mostrando que era uma tempestade ímpar, e que iria me transbordar.

E sem que eu percebesse meu azul se tornou esverdeado, suas gotas doces e certeiras invadiram meu mar.

Meu mar calmo ficou revolto, e logo eu , que me negava a perder o controle das minhas águas, me vi sem rumo. 

E aquela chuva e raios despertaram em mim o que eu nem sabia que tinha, ao mesmo tempo que  brigava  me abraçava quando eu me sentia fraca.

Os dias passaram e eu já queria que essa tempestade ficasse no meu mar todos os dias. Mas, o meu querer não era o mesmo que o dela.

E um dia ela resolveu ou decidiu, ainda não sei, que já era hora de partir.

Durante muito tempo olhei para o  céu na esperança que voltasse,até que um dia caiu uma gota no meu mar , que dizia que não iria mais voltar. Que era surreal eu pensar que poderíamos ser. Se essa gota é uma verdade ou mentira, acho que nunca vou saber.

Depois dela tive  chuvas que  beijaram meu mar, mas não me transbordaram.

Hoje ainda sou uma filha de Iemanjá , mas não mais a mesma pessoa. Mudei. 

Minhas águas não são mais as mesmas e eu também não sou. 

Surreal, loucura,  fio do destino ou qualquer outra coisa que tenha sido ou seja; só tenho uma certeza :

Ela decididamente foi a tempestade de Iemanjá no meu mar de Iemanjá. 

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